Não era preciso dizer que já não se beijavam. Usavam máscaras o tempo todo. Às vezes trocavam as máscaras, mas se habituaram de tal modo a ver apenas a metade do rosto um do outro que não percebiam as mudanças. Evitavam se esbarrar, e quando acontecia, trocavam por sobre as máscaras olhares tristes e ameaçados.
Não saberiam dizer quando começou. No início, pensavam apenas nas crianças. Talvez eles nos contagiem, pensava ele, nos momentos de medo. Ela, por sua vez, estava resoluta: era preciso sim pensar nas crianças, mas a melhor forma de fazê-lo era sendo forte, para protegê-los. Viviam como reservistas, aguardado a inevitável convocação para uma guerra já perdida.
Ela sentiu os primeiros sintomas. A falta de apetite, a letargia, as dores culminaram num estado febril, que com serenidade, ela esperou passar. Não podia dar a notícia assim, sem ter ela própria a digerido. Além de tudo, do jeito que se encontrava, poderia cometer injustiças. Sempre flutuou por sua mente a idéia de que se a crise seria iniciada por ele. Toda vez que o via fraco, esse pensamento ganhava força. O melhor a fazer, portanto, era esconder os primeiros sinais. Seria o maior fardo de sua vida o remorso de fazê-lo crer, nem que fosse por um segundo, que ele era o único culpado.
A febre foi baixando, e ela aos poucos recobrou a velha lucidez. Só que agora, ela vinha acompanhada de uma resignação tranqüilizadora. Por fim, pensou que era inevitável, afinal eram os últimos entre amigos e conhecidos.
A febre baixou ainda mais um pouco, mas chegou a um estágio do qual não iria embora tão cedo. Não tinha mais o que esperar. Quanto mais demora, mais sofrimento. Ela respirou fundo, chamou as crianças, o marido, e com a voz ofegante e fraca falou:
- Eu sei que é difícil dizer isso a vocês, mas eu e seu pai estamos nos separando.
Não saberiam dizer quando começou. No início, pensavam apenas nas crianças. Talvez eles nos contagiem, pensava ele, nos momentos de medo. Ela, por sua vez, estava resoluta: era preciso sim pensar nas crianças, mas a melhor forma de fazê-lo era sendo forte, para protegê-los. Viviam como reservistas, aguardado a inevitável convocação para uma guerra já perdida.
Ela sentiu os primeiros sintomas. A falta de apetite, a letargia, as dores culminaram num estado febril, que com serenidade, ela esperou passar. Não podia dar a notícia assim, sem ter ela própria a digerido. Além de tudo, do jeito que se encontrava, poderia cometer injustiças. Sempre flutuou por sua mente a idéia de que se a crise seria iniciada por ele. Toda vez que o via fraco, esse pensamento ganhava força. O melhor a fazer, portanto, era esconder os primeiros sinais. Seria o maior fardo de sua vida o remorso de fazê-lo crer, nem que fosse por um segundo, que ele era o único culpado.
A febre foi baixando, e ela aos poucos recobrou a velha lucidez. Só que agora, ela vinha acompanhada de uma resignação tranqüilizadora. Por fim, pensou que era inevitável, afinal eram os últimos entre amigos e conhecidos.
A febre baixou ainda mais um pouco, mas chegou a um estágio do qual não iria embora tão cedo. Não tinha mais o que esperar. Quanto mais demora, mais sofrimento. Ela respirou fundo, chamou as crianças, o marido, e com a voz ofegante e fraca falou:
- Eu sei que é difícil dizer isso a vocês, mas eu e seu pai estamos nos separando.