Estou apaixonado por Nina Simone. Quase sempre, minhas paixões musicais decorrem das outras, mas não é isso que vem ao caso.
O que acontece é que ontem eu estava maravilhado com a infinidade de versões para "My Baby Just Cares" que estão disponíveis no YouTube. É possível encontrar até mesmo uma versão de 1930, de Jack Paine and His Band - possivelmente a mais próxima da original, composta por Walter Donaldson e Gus Kahn para um musical de 1928. Obviamente, as versões de Nina se destacam. A que apresento no vídeo acima, se não é a mais bonita, é a que melhor mostra seu gênio musical. Mas também não é isso que vem ao caso.
Ao ouvir a música, eu não conseguia entender de forma alguma o verso " Liz Taylor is not his style", talvez por causa da inconfundível - e irresistível - pronuncia da " Nega." Fui buscar a letra no Google e na primeira estrofe encontrei uma surpresa: a palavra "cars", do verso "My baby dont care for cars" era um link. Ao clicar sobre ele, fui submetido a uma oferta relacionada a automóveis. Incrédulo, cliquei outra vez, e surgiu novo anúncio, também relacionado a venda de carros e peças automotivas. Fiquei cheio de dúvidas, e como sempre, resolvi partilhá-las aqui.
O acaso é mais forte do que os propósitos, pois é amigo de longa data da ironia. Justamente na letra de uma canção que fala de alguém que não liga para roupas, shows, badalação, carros, encontro pela primeira vez esse tipo de publicidade. Os especialistas poderão me explicar que se trata de uma importante e eficiente ferramenta de vendas, que associa nomes, cria sistemas, estatísticas, e ao final das contas facilita cada vez mais nossa vida. A eles, respondo apenas que nossa vida está a cada dia mais difícil. Mas persiste a dúvida: será mesmo necessário que tudo vire propaganda ? Há alguns anos, me assustei quando vi uma luz forte no céu, na altura do Pão de Açúcar. Pela manhã, constatei que o OVNI era um carro esporte, pendurado pelos cabos do bondinho para fazer a sua campanha de lançamento.
Naquele dia, tal qual na canção de Caetano, meus olhos buscavam discos voadores no céu, e acabei encontrando um carro. Ontem, eu queria a letra de uma música, e também encontrei um carro. Há claramente uma confusão entre o que se busca e o que se acha. Deve ser por isso que os gênios da propaganda acreditam que quando eu quiser, finalmente, um carro, buscarei por felicidade, carinho e conforto. Mas eu e Nina, que não somos bobos nem nada, sabemos que isso só " My baby" tem.
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