Canção dos Largos
Eu ando em busca da canção perfeita
para aplacar essa desfeita que você me fez
Talvez eu a encontre no Largo de São Francisco
numa banca do bicho mais pro fim do mês
nas orações dos crentes no Largo de São José
no Largo do Machado ou em Trafalgar Square
Eu vou para o convento do Largo da Carioca
ou para Ibitipoca, largo essa mulher!
Eu ando em dúvidas a teu respeito,
eu já não sei se foi desprezo, despreparo ou despeito
Eu ando a passos rápidos pela cidade,
não sei se foi maldade ou foi desamor
Meu coração que é largo feito o infinito
agora afoga um grito de tristeza e dor
Que isso vai passar eu sei,
mas a angústia é saber-se uma pluma a mercê do vento
Se eu vejo o tempo como um trem veloz,
tento ancalçá-lo mas ele não cede
Se faço dele um carro-de-boi,
tento ir em frente mas ele me segue
É como uma canção, que sai de parto normal
Ou como a respiração,
quando a gente lhe presta atenção, ela deixa de ser natural
Talvez não haja uma canção perfeita,
talvez não tenha uma receita pra esse dissabor
Talvez quando eu me encontre no Largo do Boticário
ao ser destinatário de um novo amor
eu deixe de querer curar essa ferida
eu largue dessa história pra entrar pra vida
Que é como canastra suja,
ou como o som do vinil
A beleza que há nos erros,
quaresmeiras que ficam nos cerros
muitos meses depois de abril
Novo quilombo de Zumbi
Há 13 anos
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